quinta-feira, 8 de maio de 2014

Conto - Meu Ipê



Meu Ipê nasci em você, é em você que irei morrer... Meu Ipê hoje é meu aniversário de 17 anos. Todos estavam comemorando comigo, a culpa é minha!
Mamãe pulou em minha frente e foi salva por papai, que morreu na hora. Mamãe foi atingida depois e ficou sobre mim ainda viva pra me proteger!
O resto da família foi dizimada. Um por um. Na minha frente, meu Ipê! Depois de todos mortos deram o ultimo tiro em mamãe o que a matou! Suas últimas palavras foram fuja!
Ela não sabia, mas já havia sido atingida antes perto do pulmão... Meu Ipê... Enquanto eles procuram a senha do cofre eu Fugi para você!
Sei que morrerei em você! Foi em você que eu nasci e é em você que eu escolho morrer! Corri pra você meu Ipê, agora vejo este imenso jardim, em que corria brincando com todos eles.
 Minha família, meus amigos... O ar já me falta ao peito. Era naquele campo de rosas de todas as cores, que eu me deitava em algumas noites pra ver as estrelas. Era ali. Do outro lado, uma infinidade de pinheiros e árvores de bordo... A Floresta Temperada do Canadá.
 Na frente, na minha frente à casa que eu fui criada, minha sepultura e a de todos que me criaram.
Meus amigos não estão aqui. Sou grata por isso. Pelo menos eles não morreram junto a mim. Não é meu Ipê?
Atrás de mim esta a estrada... Depois dela a casa de um deles que também me esqueceu, assim como os outros que chamei de amigos.
Aqui ao centro, o centro do meu mundo. Esta você!  Deitada em suas folhas caídas, estou eu, quase morta entre suas raízes. Abrace-me meu Ipê. Abrace-me, o mais forte que puder!
O sangue sai de mim pra suas folhas secas, delas para terra, alimentando suas raízes assim como o sangue de minha mãe as alimentou quando nasci.
 Meu Ipê... Não darei a luz em você como sonhei um dia. Mal respiro agora. Faltam 5 minutos pro meu aniversário, para hora exata em que eu nasci. E tenho a impressão de que é nessa hora que eu morrerei.
 Minha visão esta embaçada, meu Ipê, o que escondeu meus segredos mais profundos, e os guardou pra si. Meu Ipê, você foi o único que não me traiu. Que me acompanhou durante todos os anos em que vivi e nunca me traiu.
 Meu Ipê... Obrigada por me dar a vida. Ouço você chamar o meu nome. Não grite por mim. Não chore. Lembro-me de cada tiro. Cada tiro que acertava aqueles que eu amava e amo, ele matava a mim também, aos poucos. Eu já estou morta não estou? Não é esse tiro que me tirou a vida. Foram todos eles.
 Adeus meu Ipê... Foi em seus braços que eu nasci, e é neles que eu vou morrer.

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