sexta-feira, 23 de maio de 2014

Conto - Ane



“E então, o que você vai fazer?” Eram essas as sete palavras que punham em desespero a mente e o coração de Ane. Suas memórias invadiam sua mente tendo como trilha sonora a frase. Lembranças de uma criança com lágrimas escorrendo dos olhos no antes tão amado campo florido. “E então, o que você vai fazer?” De como seu vestido branco de florzinhas vermelhas subiu levemente quando ela caiu e dos dentes de leão que se levantaram em seguida. “E então, o que você vai fazer?” Toda a dor que ela sentiu, com aquele militar que ela nunca havia visto á sua frente. “E então, o que você vai fazer?”
                - Você sabe o que é a morte Ane? - ele havia perguntado.
“E então, o que você vai fazer?”
- É quando as pessoas abandonam as outras. - Ela disse, pelo menos era assim que ela via a morte. As crianças filhas de amigos de seus pais já haviam sido a maioria, abandonadas.
“E então, o que você vai fazer?”
- Não. - Ele disse. - A morte leva as pessoas, Ane. Não perguntam se as pessoas querem ir. Ninguém te abandonou. Mas eles se foram.
“E então, o que você vai fazer?”
- Eles quem? - Ela perguntou temendo saber a resposta.
“E então, o que você vai fazer?”
- Seus pais.
                “E então, o que você vai fazer?”
- Esta é Ane, ela acabou de chegar. Os pais eram militares. E morreram na guerra. Ela não fala muito, e nem se relaciona com as outras crianças. E raramente come. Ela ainda esta em choque. E quando a questionamos ela fixa o olhar no nosso, como se essa fosse toda a resposta de que precisamos.
“E então, o que você vai fazer?”
- Hey, seu nome é Ane, não é? 
                Ane olhou para cima, e encarou o garoto de olhos verdes e cabelos castanho-claros, bagunçados, e então tornou a olhar para a sua boneca favorita no chão.
“E então, o que você vai fazer?”
                - Sei que você não fala com ninguém. – o garoto abaixou-se – E sei que seus pais morreram na guerra.
                Ane olhou para o garoto imediatamente, como se ele tivesse lhe dado um tapa. O encarou com sua raiva infantil e com sua pouca compreensão do mundo.
                “E então, o que você vai fazer?”
                - Meu nome é Liam. E meu pai também morreu na guerra, há um ano. Minha mãe se matou uma semana depois. Eu também não falo com ninguém. Eles não entendem.
“E então, o que você vai fazer?”
                - Eu odeio. – Foi à resposta de Ane.
                - O que? – perguntou o garoto.
“E então, o que você vai fazer?”
                - A guerra. Meus pais. Os militares. Todos. Eu os odeio.
                “E então, o que você vai fazer?”
                - Eu também. – Disse Liam, sentando-se na frente dela. – Odeio todos eles. Principalmente os que têm pena de mim. Eu os odeio. E também odeio a morte. E tudo o que ela faz com as pessoas.
                “E então, o que você vai fazer?”
                - Tudo o que eu sei, é que eu nunca vou lutar. Nunca. A guerra não vai me matar. Eu não vou deixar. – Disse Ane.
                - Eu também. Nunca vou lutar. Nunca. Eu prefiro morrer a lutar. – Disse Liam.
                “E então, o que você vai fazer?”
                O vento bateu em seu rosto. Levando mechas do cabelo castanho mel de Ane para seu rosto adolescente, onde algumas grudaram nas lágrimas. Seu cabelo estava preso, mas a franja na altura da boca não.
                - E então, o que vai fazer Ane Trace? Seguirá os passos de seus pais, ou morrerá?
                Ane o encarou como se ele tivesse lhe dado um tapa. Não um olhar de medo. Mas um olhar acusador, com um desafio calculado.
                - Isso é uma ameaça, senhor? – Sentia o gosto da ironia nas próprias palavras.
                - Não, é um aviso de amigo.
                - Avisos e ameaças ás vezes podem ser a mesma coisa. E o senhor não é meu amigo.
                Todos na sala puderam ouvir o grito de Liam “Ane”, e de novo. E de novo. Ane se levantou batendo as mãos na mesa. E encarou o coronel á sua frente.
                - O que estão fazendo com ele? Se vocês machucarem-no eu nem sei o que vou fazer.
                - Isso foi uma ameaça? – Perguntou o coronel com um meio sorriso.
                - Não, foi um aviso de amiga. – Ane ironizou mais uma vez.
                - Mas você não é minha amiga. Pelo menos não até agora. Sente-se e vou te contar uma história.
                - Não vou me sentar.
                - Ótimo. Fique de pé então. Era uma vez dois homens e uma mulher. Eles eram os melhores policial da história do FBI e ela era a mente mais brilhante da história da CIA. Eles eram os melhores porque tinham algo de especial, no DNA. Algo que morria assim que separado do corpo. Por isso apenas suspeitávamos que eles o tivessem. Algo que só podia ser passado para seus filhos. Um dia um casal deles se apaixonaram. E eles tiveram uma filha. Foi assim que tivemos certeza de que eles o tinham. O governo queria a menina para testá-la e tentar passar seus genes. Queríamos cria-la para a guerra. Imagina o que ela não poderia fazer? Os pais dela queriam protegê-la. Então aceitaram ser da tropa especial. Uma tropa só para pessoas como eles. A ideia era manda-los para uma missão suicida o mais rápido possível. Mas eles esconderam a menina. Não a apresentaram para ninguém que conheciam nem para suas famílias, nem para seus amigos. A menina desapareceu. Oito anos depois encontramos a menina. Mandamos os pais para uma missão suicida. Eles morreram. Mas a menina desapareceu de novo. Sete anos depois, nós encontramos a menina de novo. Ane trace. Já sabe quem é a menina, não sabe?
                - Eu sou a menina. Você matou meus pais. E agora quer que me matar também.
                Mais uma vez o grito de Liam. “Ane” “Ane”.
                - Seus pais só lutaram por amor. É por isso que o seu amigo Liam esta aqui. Acho que sendo filha de quem é esse é o único meio que tenho de te obrigar a lutar.
                - O que acontece se eu disser não?
                - Isso não é óbvio? Ele morre junto com você.
                - Não ouse encostar nele. Eu faço tudo o que você quiser. – Ane cuspiu as palavras, brava com ela mesma.
                - Muito melhor agora. Você pode começar, sentando-se e sem demonstrar que me odeia. Você pode me odiar, mas não pode demonstrar. Essa é uma das regras da vida. Sinta sem demonstrar, e demonstre sem sentir. Demonstre que gosta de mim. Dome seus sentimentos, e então você vai aprender a domar os seus medos. Você é um animal. E eu vou te domar e te tornar dócil e obediente. Á mim é claro.
                Ane controlou sua raiva. Queria gritar, queria ferir, queria... Queria uma coisa que nunca pensou que fosse querer. Queria lutar. Esse sentimento a assustou. Ela realmente queria lutar, e não só de forma metafórica, queria lutar, queria bater, queria... Matar. Não posso dar bola para tudo o que ele diz. Mas eu devo sim, aprender algumas coisas com ele. Pensou. O único jeito de sair daqui com o Liam é fazendo o jogo dele. E aprender a domar meus sentimentos e não só demonstrar o que eu não sinto, como também falar, e lutar de verdade serão essenciais para isso. Demonstrar-me dócil e obediente, querendo mata-lo.
                - Pare com esse olhar de quem esta pensando. Você não pensa. Você escuta e age. É isso que vou querer de você. Além, é claro, da sua determinação e obediência. Posso contar com isso?
                - Ane! – Liam arrebentou a porta reforçada e entrou na sala que parecia uma daquelas salas de interrogatório que passam na TV. Estava ofegante e cheio de hematomas. Sangue escorria de um ferimento acima do olho direito e também de suas mãos, mas aquele sangue não parecia seu, então estava tudo bem.
                - Liam! – Ane viu um homem se aproximando de Liam pelas costas, com uma arma de choque. – Liam atrás de você!
                O homem avançou, Liam virou-se para trás em uma velocidade impressionante, segurou o pulso que empunhava a arma de choque e o puxou tirando seu corpo do caminho e jogando o homem no chão. A arma parou nos pés de Ane que rapidamente a pegou. Não era uma arma de choque como havia pensado. Era uma arma de fogo. Ane pulou pegando impulso na mesa passou o braço em volta do pescoço do coronel em um quase mata leão e apontou a arma para sua cabeça. O soldado que atacou Liam levantou-se e Liam o acertou na cabeça fazendo-o desmaiar.
                - Agora vamos brincar de outro jeito. Liam reviste o coronel e pegue as armas dele, quando terminar de revistar o soldado. Coronel levante as mãos, você é o meu refém.
                - Criança imatura. Não tem nenhum treinamento, vocês dois vão morrer. Meus soldados nunca me deixarão.
                - Se eles te deixarem nós morremos se não, bem, nós saímos daqui e depois vemos o que vamos fazer. – disse Ane.
                - Tenho mais de 150 da elite americana aqui. Vocês nunca sairão inteiros.
                -Se os outros 100 da elite americana forem tão ruins quanto os 50 que tentaram me segurar, vamos sair daqui muito fácil.
                - Nós estamos em uma base secreta, vocês nunca conseguirão sair daqui. Rendam-se e Lutem a nosso favor vocês não sabem ainda qual é o inimigo, vocês não tem noção do que estão fazendo, nunca terão paz, eles os encontrarão e os matarão.
                - Talvez eu até lute do lado inimigo. Eles não mandaram meus pais para uma missão suicida. – disse Ane.
                Liam estava armado até os dentes, tinha uma metralhadora, uma automática e várias outras armas. O coronel só tinha uma arma que atirava dardos. Haviam três botões nela. Um azul, um verde, e um vermelho.
                - Para que servem os botões? – Perguntou Ane.
                - O azul da energia extra para o alvo, o verde faz desmaiar e o vermelho mata. – disse Liam.
                - Quem te disse isso rapaz? – perguntou o coronel.
                - Aprendi na prática. – Respondeu Liam. – Ane, há mais pessoas presas aqui.
                - Não interessa. Vamos embora. – disse Ane.
                - Eles reagiram quando eu gritei o seu nome. Tem certeza de que não quer dar uma olhada?
                - Vamos até lá. Você sabe o caminho?
                - Sei, vamos.
                - Você deve estar se referindo a meus agentes disfarçados, que vão mata-los assim que chegarem perto.
                - Se fossem seus agentes disfarçados você os deixaria nos matar sem falar nada.
                - Ou eu diria para você, para que pensasse exatamente isso e não tivesse mais dúvidas sobre ir lá ou não.
                - E porque você me contaria que o fez? Para me fazer voltar a ter dúvidas?
                O Coronel ficou quieto e sua hesitação deu ainda mais certeza para Ane.
                - Vamos. – Disse a menina, determinada.
                Chegando ao corredor dois homens e uma mulher começaram a gritar. Um casal gritava Ane e o um homem gritava Liam. Como eles sabiam seus nomes? Ane parou de andar, compreendendo tudo. Ficou tremula, e o coronel, percebendo sua fraqueza tirou a arma dela em segundos. Apontando-a para a cabeça da menina. Ane não pensava mais em nada que havia ao seu redor. A sua vida fora uma mentira. No início contada pelos pais e depois pelo coronel. Seus pais estavam vivos e aprisionados.
                - Liam. – Disse Ane, com a voz tremula.
                Liam disparou uma de suas armas contra o coronel.
                - Liam, qual botão você apertou?
                - O verde. E me explica por que a você ficou assim de repente?
                - Aquelas pessoas são nossos pais. Minha mãe e meu pai. E o seu pai. Eles não foram mortos como todos nos fizeram pensar, foram feitos prisioneiros.
                Liam parou de respirar por um tempo.
                - Pai! – Gritou quando finalmente engoliu uma golfada de ar. Correu até a cela começou a tentar abri-la.
                Essa defesa é muito fraca. Tenho na inteligência da minha mãe e a força do meu pai e Liam tem a força do pai dele também, se não tivesse não teria chegado até mim. Se eles são assim tão bons... Porque não escaparam? Alguma armadilha? Não, se houvesse uma Liam já teria morrido forçando as barras como ele esta forçando.
                Eles estão arrumados demais e com ferimentos recentes, mas nenhum antigo. Eles foram pegos recentemente.
                - Liam pare. – Ane gritou. – Pare de forçar as barras, pare de tentar soltá-los. Eles não estão presos há muito tempo. Acabaram de ser capturados. Essa é claramente uma prisão precária para agentes treinados e especiais como eles. Eles podem sair daí sozinhos, e não vai ser muito difícil. Destranque a porta da sua cela mãe. Entortem as barras das de vocês, ou forcem a fechadura, tanto faz.
                A mãe de Ane puxou uma agulha fina que tinha embaixo do cabelo e destrancou a porta com maestria. O pai dela deu um soco na fechadura, quebrando-a. O pai de Liam entortou as barras. Todos eles saíram das celas, com pouquíssimo esforço como Ane havia pensado.
                Liam estava parado, com o pai á sua frente. Ane foi até os pais, mas manteve um metro de distância.
                - Esse é seu pai Liam?
                - Sim. Esse é meu pai.
                - Esse foi o homem que disse que meus pais estavam mortos. E agora eles estão aqui, juntos. O que isso significa? Mãe, pai. Se sabiam que eu corria perigo, porque não foram me procurar? Se ouviram Liam gritar meu nome e o viram, porque não saíram daí para ajudar? Podiam ter saído.
                - Filha sei que tem muitas perguntas para nos fazer. Mas tudo o que eu e seu pai fizemos foi pensando em você.
                - Pensando em mim? Fizeram-me pensar que estavam mortos quando eu tinha apenas oito anos e me deixaram crescer em um orfanato. Sabem o quanto isso mexeu comigo? Sabem quantas famílias tentaram me adotar? Sabem como eu dei um jeito de todas elas me devolverem por medo de me aproximar delas e vê-las morrer?
                - Filha, nós só não queríamos te envolver nisso tudo.
                - E agora, porque quando eu já estava envolvida vocês não me ajudaram.
                - Vocês chegaram até aqui. Nós confiamos em suas capacidades. – Disse o pai de Liam.
                - Confiam em nossas capacidades ou nas capacidades de vocês? Soldados treinados, que já mataram e já morreram. – Disse Ane com sarcasmo.
                O alarme começou a soar e as luzes foram substituídas por luzes vermelhas como as dos carros de polícia. Ane se concentrou e tentou ouvir alguma coisa além das sirenes, para se orientar no escuro, mas as sirenes eram altas demais.

                Tudo aconteceu muito rápido, os tiros, o cheiro de sangue, pessoas caindo, os barulhos de tiro mais altos que as sirenes e a dor aguda. Ane sentiu o gosto de sangue na boca. Os sons pareceram diminuir de intensidade até restar apenas um zumbido quase inaudível em seus ouvidos, o tempo pareceu parar e tudo ficou ainda mais escuro.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Poesia - Um gole de chá


Um gole de chá
E uma rima
Isso ainda me anima?
Sim, ainda.

Um gole de chá
E um pensamento
Eu ainda me lamento?
Não, é apenas o momento.

Um gole de chá
E um lembrete
O que quero matar
Com um porrete?

Um gole de chá
E um quadro
O que é provado
Neste quadrado?

Um gole de chá
E um suspiro
O que há
De tão comprimido?

Um gole de chá
E um urso
O que assusta
Além do sussurro?

Um gole de chá
E um medo
Para onde vai
Com tanto desespero?

Um gole de chá
E um sonho
Me diga,
Do que disponho?

Um gole de chá
E uma flor
Para onde vai
Com tanta dor?

Um gole de chá
E uma cor
Porque
Esse sabor?

Um gole de chá
E um aquário
O que escondo
No armário?

Acabou-se o chá
Acabou-se a rima
Acabou-se o que me anima.

Poesia - Imundo


O vento lá fora sopra,
A chuva lá fora lava,
O mundo lá fora segue,
E a mente lá fora, mente.

E quem está dentro, descontente
Foge do vento, da chuva, do mundo,
E preza a mente.

E os adorabundos,
Que estão sempre a adorar o mundo
Do jeito que ele está,
Parecem não perceber
O quanto temos para mudar.

Quem está dentro
Parece estar descobrindo
Que apertando sempre
E não abrindo
Cercamos o centro,
Sem deixar furo.

Os cabeças, que estão fora,
Tentam á toda hora
Convencer o mundo
De que é oriundo
De um país com governo limpo.

Quem esta dentro sabe
Que toda faca tem dois gumes
E que um dia,
Rezam para que não seja tarde,
O mundo vai perceber
Que o governo é na verdade imundo.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Poesia - Poema de inverno


Brancas flores nascem,
Entre as folhas.
Pratas rios refletem,
Minha imagem.
Verdes folhas descem,
O penhasco.

Vermelho sangue pinga,
De uma rosa.
Amarelos Lírios cantam,
Sonhos de inverno.
Marrons os troncos velhos,
Sobrevivem.

Azul céu que flui,
Uma vida.
Cinzas são as Lótus,
Que viram o dia.
Clara como a noite,
Tão fria.

Conto - Sonho perturbador


   Eu sonhei...
   E no sonho era noite, e a Lua cheia iluminava tudo com seu brilho prateado. Eu estava em meu forte, com pilares sólidos de mármore brilhante, que espelhavam o brilho da Lua. Estava tudo azulado como a noite e eu olhava para o gramado arredondado, limitado pela floresta, por uma das minhas inúmeras janelas.
  E eu sabia que tudo aquilo era e é meu, que tudo aquilo era e sou eu.
  Uma sombra negra tomou a parede atrás de mim, uma sombra com formato assustador, que corria para perto de mim.
  No sonho eu corri. Desci a escadaria rapidamente, com o som de meus passos ecoando pelo enorme lugar, a sombra me acompanhava, mas eu era mais rápida.
  Ofegante cheguei aos portões de prata maciça, bem desenhados em formato de arco, que rapidamente abriu-se para me dar passagem.
  Eu estava em meu gramado, com a sombra fora de minha visão. "Não olhe para trás.", pensei, "Não olhe para trás.". Não via a sombra, mas sabia que ela ainda me perseguia.
  No sonho eu corri contra o vento que jogava meus cabelos e as sedas de meu vestido para trás. As sedas brancas estavam azuladas e meus cabelos normalmente dourados estavam cinza-prateados.
  E eu corria. Pela primeira vez atravessei o gramado sem interrupções e cheguei á uma das partes de minha floresta.
  Estava frio, e as pontas e folhas de galhos retorcidos riscavam e arranhavam minha pele com força, mas não diminui minha velocidade.
  As raízes me atrapalhavam e era difícil desviar de todas elas, mas a sombra chegava mais perto, como se tivesse facilidade em locomover-se na floresta. Eu era lenta demais. A sombra era o caçados e eu a caça.
  Corri depressa demais, olhei para traz e uma raiz traiçoeira me derrubou. A sombra estava chegando mais perto, e antes que eu pudesse me levantar ela já havia me ultrapassado e barrado meu caminho a três metros de distância., entre as árvores.
   E eis minha sombra, meu caçador, sentado á minha frente, coçando as orelhas. Quase não acreditei que era um coelhinho branco com algumas pintinhas pretas e olhos doces.
   A sombra de meu pequenino caçador ainda era assustadora, mas o contraste com sua delicadeza, beleza e fragilidade era ainda mais. Pude ouvir o vento dizer-me num suspiro "Acabou."
   E foi assim que eu acordei, perturbada, de um sonho perturbador.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Opinião de uma brasileira sobre a copa no Brasil

     Inspirada nos protestos que recomeçaram (espero que não acabem) hoje no Brasil, resolvi expor minha opinião de forma clara com dados que coletei em minhas pesquisas sobre o assunto.

     Nós, brasileiros, temos a fama de loucos por futebol. Bem, podemos até ser loucos por futebol, mas acho que agora nosso governo começou a perceber que não, nossa loucura não nos faz tolos.
     Nossa copa já é a mais cara da história. Absurdos R$28 bilhões foram "gastos" até agora. Na verdade eu me surpreenderia se os políticos não tiverem no mínimo tirado a metade para o próprio bolso, considerando que apenas 40% do previsto para a copa foi concluído.
     É muito óbvio que investiram nos estádios primeiro e deixaram a infraestrutura para depois, considerando que apenas 10% das obras que seriam realmente úteis para quem mora nas cidades cede foi feito. E é muito óbvio também que se já não teríamos estrutura com essas obras prontas, definitivamente não temos estrutura.
     Mas estamos falando de políticos corruptos e sem noção que só querem manipular o povo com um governo parecido com o de Roma, na base da política "pão e circo" (bolsa família e copa/olimpíadas). Agora vamos pensar, a bola da vez é a copa. Já "gastaram" R$28 bilhões. Quanto mais vão roubar até as olimpíadas?
     Acho realmente uma pena que pararam as manifestações quando elas haviam começado e só a recomeçaram agora. Porque se continuassem com a mesma força que vai até o dia da copa (Deus me leia) a FIFA a teria cancelado.
     Não culpo os manifestantes por terem parado, até porque a educação no país é uma droga. Você paga R$ 200 reais de mensalidade em um colégio particular meia boca, R$1.000 reais em um colégio bom, e de R$3.000 para cima em um excelente. É isso ou o ensino público em que os professores não conseguem dar aula direito e a matéria é fraca.
     Entrando nisso, podemos falar do salário dos professores que é baixíssimo. Os professores são os pilares da sociedade, eles ensinam e formam junto com uma família e um ambiente equilibrado (daqui a pouco comento sobre isso também) um cidadão. Eles vão ganhar a partir desse ano (concursados) R$1.697,37. Um salário que não condiz com o valor deles.
      E não são só eles. Os bombeiros que salvam vidas arriscando as próprias e muitas vezes morrendo por outras pessoas ganham R$2.234, os policiais que arriscam a vida combatendo o crime ganham R$2.242. Sabe o que mais me irrita? Ver os políticos corruptos ganhando por mês R$26.000 (esse é o oficial, sem contar com o que eles roubam, claro, porque daria milhões) e votando o aumento do próprio salário. E também me irrita um cara que ganha milhões por mês para chutar a porra de uma bola. É absurdo, não tem lógica nenhuma.
     Agora vamos falar do ambiente equilibrado, que teria no mínimo Educação, Segurança e Saúde. A educação é tão fraca que re-elegeram o Lula e e Elegeram a Dilma. A Segurança é tão ruim que se você ligar o noticiário ás 18h só tem assassinato, morte, estupro, assalto e etc. E a Saúde é tão incrivelmente ruim que a maioria dos brasileiros sabem do trocadilho SUS - Seu Último Suspiro e não sabem que SUS significa Sistema Único de Saúde.
    Nem sempre foi assim. Minha mãe estudou em escola pública, meu pai também, assim como meus tios. E era boa. Nunca foi sensacional, mas era razoável. Eles estudaram antes do PT tomar o controle do país em uma ditadura não pronunciada. Eles passaram pelo SUS e não morreram (nunca tiveram nada grave também, se não...). Brincar na rua era normal e não perigoso.
    Eu fico tentando imaginar como era isso. Sério, tentando, porque não entra na minha cabeça que o Brasil um dia foi assim. Simplesmente não entra.
    Bem, aos professores e demais profissionais que estão em greve, vocês estão certos. Aos brasileiros, que não abandonemos a luta depois da copa porque ela tem que continuar para mudarmos algo. E aos estrangeiros que vêm para assistir aos jogos, vocês são loucos.

  É essa a minha opinião. Bjss Cla.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Pedido - Hey pessoas. Sei que não tenho muitas visualizações e seguidores, mas... Se não for pedir muito, quem entra pode comentar? Queria realmente saber a opinião de vocês. ^^ O que devo melhorar, o que esta bom... Aceito todas as críticas! Beijos, Cla.

Poesia - Certeza



Ás vezes queria descansar...
Como o Sol que se põe,
Todos os dias.

Ás vezes queria pernoitar...
Como a Lua na noite...
Sempre a brilhar.

Ás vezes queria voar...
Como o pássaro,
Quase sempre a cantar.

Ás vezes queria ser um barco...
Sempre a navegar,
Navegar, navegar.

Queria ser isso,
Queria ser aquilo,
Acho que até me perdia...
De tanto que queria!

Como Orfeu, percebi um dia,
Em meio á cantoria.
Queria, sabia, seria...
Que nada!
Eu quero, eu sei, eu sou.

domingo, 11 de maio de 2014

Texto - Num quadro pronto


Num quadro pronto, feito pela natureza, vejo uma árvore negra que pinta o amanhecer. Num escrito lento, feito por mim, vejo a beleza das palavras juntas nascer.
Quem se importaria se visse mais? Tem como ver mais do que eu vejo, ou vejo tudo o que quero ver?
Disse a mim mesma por vezes, que cada um vê o que quer ver, simplesmente porque eu vejo tudo o que quero e omito de mim mesma tudo o que não quero ver.
No escuro procuro minha lanterna de vela, e não a encontro enquanto tateio á minha volta. Levanto da cama, a saia da camisola, branca, escorrega um pouco mais para baixo.
Encontro à janela. Abro-a, e vejo o quadro pronto, feito pela natureza, vejo a árvore negra que pinta o amanhecer. Hoje o dia será claro, é o que digo a mim mesma.
Digo-me várias coisas, sou uma ótima e violenta companhia para mim. Digo-me o que acho, digo-me que horas são, digo-me o que devo, digo-me o que não devo. Não, eu digo-me mais que isso.
Digo-me como está o tempo, digo-me enquanto o Sol nasce que é dia e que tudo irá começar de novo. Quem sonha acordada, tem pesadelos acordada também.
Dizem que sou paciente, a verdade é que me irrito fácil demais. Quem diz é que não vê. Nem tudo é o que parece ser, nem tudo brilha como deveria brilhar, nem tudo tem o gosto que deveria ter. Nem as flores representam o que deveriam representar.
Percebi que hoje estou perdida dentro de mim mesma, de novo. Mas faz já algum tempo que não me perco assim, em mim apenas. Em mim.
São raras às vezes em que o exterior conversa com o interior, mas normalmente, quando acontece, chego a algumas conclusões, dentro de mim.
O amanhecer decorre tranquilo, como o sonho que tive. Toca-me profundamente, como o sono profundo. Puxa-me para dentro, como o mar tão fundo. Sonho, sono, tempo. Vem, cai, fica vai... Vai...

Vida, tonta, lenta. Vivo tonta, e sou por vezes lenta. Ouço vozes de pessoas já conhecidas por mim, falando sobre coisas que eu não entendo por não querer entender. Como pássaro voo para onde quero estar.

sábado, 10 de maio de 2014

Conto - Chuva


Os lembretes escritos na lousa são do mês passado, percebeu a menina. Desembrulhou um bombom.  Aquele tamanco não deveria estar ali. E nem aqueles papéis. Com um suspiro ela se ajeitou na cama, fixou o olhar no teto e desembrulhou outro bombom.
O que estou fazendo? Pensa ela, desembrulhando mais um bombom. Nada. Absolutamente nada. Quer dizer, nada além de detonar essa caixa de bombons. E nem sei por que estou fazendo isso, não estou sequer com fome. Talvez seja só para passar o tempo. O que é péssimo. Vou ficar gorda assim. Dane-se. Desembrulha mais um bombom.
Não posso ficar aqui, esperando a vida passar, posso? Não. A vida não vai me esperar. Desembrulha mais um bombom. Os sons do mundo lá fora entram pela janela aberta e preenchem o quarto. Desembrulhando mais um bombom, a menina tenta distingui-los.
Uma aula de ginástica que mais parece uma balada, uma moto passando rápida, um avião, a chuva fina que começava a cair. Desembrulhou mais um bombom e continuou a ouvir. Outro avião, um carro com som alto, os gritos de uma mulher, e de outra e de um cara também, alguma briga, pensou, desembrulhando outro bombom. A chuva ficou mais forte, e começou a atingi-la. Com um suspiro ela resolveu ignorar a chuva e pegar mais um bombom.
As luzes estavam apagadas e todos os sons foram substituídos pelo barulho estrondoso das gotas de água contra a superfície das casas e ruas. Desembrulhando mais um bombom, lembrou-se de que estava sozinha. Aquilo não a assustava, ela estava acostumada a ficar só. Desembrulhando mais um bombom, pegou o celular para olhar a hora, 23h55.
Os pais costumavam chegar tarde, mas não tanto assim. Ela estendeu a mão para a caixa de bombons, e percebeu que ela estava vazia. Levantou-se para fechar a janela e o vento jogou várias gotas de água nela. A água era viscosa e escura. E tinha cheiro de... Espera isso não é água, pensou. Fechou a janela com força e acendeu a luz do quarto. Ofuscada cobriu os olhos com as mãos e viu o líquido escarlate escorrendo delas. Olhou para o espelho á sua frente e se viu coberta de sangue.
Abriu a janela e viu que tudo estava escuro, nenhuma luz acesa, só a de seu quarto. Mais vento veio em sua direção, ela deu alguns passos para trás e sangue manchou o piso á sua frente.
Assustada fechou a janela com força, trancando-a. Se afastou ainda olhando para a janela, esperando que algo terrível o suficiente para explicar a chuva de sangue entrasse por ela. Nada aconteceu.
A menina respirava tão rápido quanto às batidas de seu coração. Pegou o celular e correu para as escadas. Desceu-as rapidamente, quase tropeçando nos próprios pés com a pressa, discou o numero da mãe, nada. Olhou para a tela do celular. Sem sinal.
Começou a entrar em desespero, afinal, sempre havia sinal em sua casa. Correu em direção ao telefone fixo e colocou-o no ouvido. Mudo. Se estava começando a entrar no mar do desespero antes, agora estava se afogando nele.
Sua respiração estava rápida e irregular, os pelos de seus braços estavam arrepiados, mas não se atreveu a acender a luz, o que quer que estivesse lá, ela não queria ver.
Um raio iluminou a sala, uma sombra se projetou de uma forma que não parecia humana no meio da sala, a três metros dela. Sufocando um grito a menina deu três passos para trás antes de tropeçar na escada e cair sentada no primeiro degrau.
Mais um raio e ela viu a forma se mover devagar, em direção a ela.
- Quem é você? – perguntou – O que você quer?
Ouviu o riso baixo da criatura á sua frente. E uma voz masculina zombeteira respondeu:
- Eu? Você não precisa dessa informação, em breve o seu sangue fará parte da minha chuva.
Mais um raio e a silhueta estava na sua frente, ainda sentada na escada, com a cabeça apoiada na parede, assustada demais para correr gritou:
- Fique longe de mim!

Ouviu mais um riso baixo e sentiu a criatura se aproximando, devagar, sugando sua energia aos poucos, deixando-a cada segundo mais vulnerável. A criatura repetia seu nome, e então, Lídia acordou.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Poesia - A menina


O carvão mancha a pele;
Sozinha, ela expele
De si, a própria dor;
Dos outros, lágrimas de amor.

Dos sonhos
Não foram poucos
Os que já abandonou.

A vida
Já não a intimida,
Ela é forte
Como uma flor.

Algumas noites chorou;
Em outras lutou;
E das questões que chutou,
Por sorte, muitas acertou.

Com amor,
Ela segue;
Com a dor,
Ela vive.

Como Atlas
Convive
Com o sonho
De deixar seu fardo.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Poesia - Magia


Ensine-me esta coisa que chamam de magia
Verei este mundo em sua companhia
Mostre-me a fórmula ou como agia
Não há tempo, você saberia.

Qual o nome daquela rara flor?
Que resiste tão facilmente ao calor
Diga-me o nome daquela que vive pura,
Não há tempo, preciso da cura.

Qual o nome daquela solidão?
Qual o segredo dessa poção?
Diga-me o que passa por esse coração
E eu poderei cantar contigo,

Aquela canção.

Conto - Meu Ipê



Meu Ipê nasci em você, é em você que irei morrer... Meu Ipê hoje é meu aniversário de 17 anos. Todos estavam comemorando comigo, a culpa é minha!
Mamãe pulou em minha frente e foi salva por papai, que morreu na hora. Mamãe foi atingida depois e ficou sobre mim ainda viva pra me proteger!
O resto da família foi dizimada. Um por um. Na minha frente, meu Ipê! Depois de todos mortos deram o ultimo tiro em mamãe o que a matou! Suas últimas palavras foram fuja!
Ela não sabia, mas já havia sido atingida antes perto do pulmão... Meu Ipê... Enquanto eles procuram a senha do cofre eu Fugi para você!
Sei que morrerei em você! Foi em você que eu nasci e é em você que eu escolho morrer! Corri pra você meu Ipê, agora vejo este imenso jardim, em que corria brincando com todos eles.
 Minha família, meus amigos... O ar já me falta ao peito. Era naquele campo de rosas de todas as cores, que eu me deitava em algumas noites pra ver as estrelas. Era ali. Do outro lado, uma infinidade de pinheiros e árvores de bordo... A Floresta Temperada do Canadá.
 Na frente, na minha frente à casa que eu fui criada, minha sepultura e a de todos que me criaram.
Meus amigos não estão aqui. Sou grata por isso. Pelo menos eles não morreram junto a mim. Não é meu Ipê?
Atrás de mim esta a estrada... Depois dela a casa de um deles que também me esqueceu, assim como os outros que chamei de amigos.
Aqui ao centro, o centro do meu mundo. Esta você!  Deitada em suas folhas caídas, estou eu, quase morta entre suas raízes. Abrace-me meu Ipê. Abrace-me, o mais forte que puder!
O sangue sai de mim pra suas folhas secas, delas para terra, alimentando suas raízes assim como o sangue de minha mãe as alimentou quando nasci.
 Meu Ipê... Não darei a luz em você como sonhei um dia. Mal respiro agora. Faltam 5 minutos pro meu aniversário, para hora exata em que eu nasci. E tenho a impressão de que é nessa hora que eu morrerei.
 Minha visão esta embaçada, meu Ipê, o que escondeu meus segredos mais profundos, e os guardou pra si. Meu Ipê, você foi o único que não me traiu. Que me acompanhou durante todos os anos em que vivi e nunca me traiu.
 Meu Ipê... Obrigada por me dar a vida. Ouço você chamar o meu nome. Não grite por mim. Não chore. Lembro-me de cada tiro. Cada tiro que acertava aqueles que eu amava e amo, ele matava a mim também, aos poucos. Eu já estou morta não estou? Não é esse tiro que me tirou a vida. Foram todos eles.
 Adeus meu Ipê... Foi em seus braços que eu nasci, e é neles que eu vou morrer.

Conto - Você grita



Você grita, mas não ouço. Paro suas armas no ar e as mando todas de volta. Não percebe? É um ciclo, quanto mais tentar me ferir mais irá se machucar. Só vou devolver as armas que jogar. Será você atirando em você mesmo. Um sujeito, uma ação. O mesmo que pratica recebe.
Eu recuso seu pedido de dançar. Dançará sozinho e se tornará poeira no vento como tudo a de se tornar. Nada dura para sempre, só a terra e o céu.
Em minha cabeça sempre a mesma música, com todos os meus sonhos passando como imagens.
Uma gota pinga na água causando ondas. É isso que somos, uma gota de água no oceano. Podemos causar algumas ondas, mas no fim, as ondas de verdade não são as nossas.
Veja, você se perdeu de si mesmo. Se encontre e seja livre todas as manhãs para decidir o que fazer seu destino esta em suas mãos, mantenha ao menos um pé no chão.
Não quero te dizer Adeus, quero você bem, para te encontrar de novo um dia. Querendo ou não, você esta dentro de mim.
Uma vez você disse que garotos crescidos não choram. Eu ainda tenho esperança de que você descubra o que é ser da melhor forma.
O seu problema nunca foi comigo. O tempo inteiro foi você contra você mesmo, como nesta batalha. Será que vou te ver morrer junto de seu exército? Ainda lembro do primeiro exército que derrotei. Eram 700, e nós éramos 6. Eu com pouquíssimo treinamento, você sem nenhum. Caíram 200 deles e 4 dos nossos. Ficamos só eu e você, costa com costa.
Eu tinha uma faca e um poder que não sabia controlar, pensei que estava no meu limite. Meu corpo doía e eu tremia, enjoada com o cheiro de sangue e morte.
Eles mandaram nos rendermos e jogarmos as armas no chão. Se o fizéssemos eles nos torturariam até morrermos. Você soltou sua faca e segurou meu pulso, firme, sem me machucar, soltei a faca esperando a morte. Você me virou de forma que eu ficasse de frente para você, e me beijou.
Eu ouvia apenas as nossas respirações, meu corpo parou de doer e eu só o percebia onde o seu me tocava. Pude sentir a vibração de tudo ao nosso redor. Parecia um sonho.
Foi a primeira vez que tive total controle de mim mesma. Eles começaram a atirar flechas, facas e tudo o mais, acho que ficaram com medo de se aproximar. Eu as parei no ar, as virei e mandei-as de volta, prosseguindo com elas, atravessando alguns corpos. E depois de passa-las pelo círculo que havia á nossa volta as fiz dar meia volta e derrubar todos os outros.
Quando minhas pernas falharam, você me segurou. Não derrotei aquele exército sozinha. Você os derrotou comigo. Aquele foi o início de nossa era dourada, que se transformou em um negrume capaz de assustar-me.
Meu vício em você era como o vício de uma droga. Dizia a mim mesma que te deixaria, mas eu nunca ia.
Te questionei um dia. Perguntei por que me beijou naquela hora inoportuna. Você disse que talvez aquela fosse sua ultima oportunidade de fazê-lo. Naquela hora pensei “Não quero saber, eu o amo.”.
Como foi que terminamos? Eu sempre estive solta, meu chão sempre foi todo o universo, por isso estou também sempre presa. Você se tornou um homem de ferro. Derrotamos inimigos fortes, derrotamos exércitos. Onde conseguiu o seu?
Caminho sem pressa para onde acho que você esta. Seu exército me ataca por todos os lados, menos pelas costas, os que ficaram para trás estão mortos.
Sangue suja minhas botas pretas como o ferro estigio, o ferro tirado do rio do mundo dos mortos.
Quando foi que reuniu esses milhares de almas para morrerem por você? Não sei quantos anos tem minha alma, sempre pareci uma velha, por mais nova que fosse.
Depois que o contraste causado pelo sangue contra qualquer coisa que olhasse se tornou mais importante para você do que qualquer outra coisa, você me disse que não iria desistir de mim, mas acho que não percebeu que só queria me ter por orgulho.
Você só se esqueceu de que eu sou amor e proteção porque amo e protejo tudo ao meu redor. Entretanto escolho quem amar, quem proteger e por que lutar.
O céu era seu, mas você sempre teve a mania de complicar. Sei que sou apenas uma rachadura no castelo de vidro que construiu, mas sei que sou grande o suficiente para derrubá-lo.
Um exército de 20 mil pessoas, uma muralha com canhões e armadilhas, um castelo, flechas incendiárias, essa é a sua tentativa de me parar? Não vou parar até chegar á você. Explodirei cada canhão, desviarei cada flecha matarei cada pessoa do seu exército corrompido, mas não cairei.
Não trouxe ninguém comigo, quis lidar com você sozinha, eu não tive coragem de fazê-lo quando estava ao meu lado, mas agora vou ter, porque sei que é tudo o que posso fazer por você e pelas pessoas. Você deixou de ser o homem que amei.
Porque se esconde? Será por todas as promessas que se perderam no eco vazio em que se tornou? Você conhece meu poder, sabe que eu os derrotarei, sabe que vou chegar em você. Porque se esconde? Tem medo?
Corpos se espalham ao meu redor. Corpos que eu derrubei. O exército esta morto. Levito até acima da muralha explodo todos os canhões e armo todas as armadilhas. Mas não é á mim que os estilhaços ferem. A muralha caiu. E não é só o que esta ao seu redor que cai. Eu também estou ruindo.
Sigo voando, direto para a janela em que tive um vislumbre de você. Essa será a minha noite gloriosa e também a noite de minha morte. Jamais serei a mesma.
Explodo a janela e parte da parede, pouso á meio metro de você. Esse é um momento que não esquecerei até a hora de minha morte.
“Tome seu rumo.” Foi o que eu disse a você quando o mandei embora. “Tome o seu rumo e não volte mais. Nunca mais.” Você não voltou. Sinto a vibração da estrutura do castelo. Balance comigo, desabe do jeito que eu estou desabando, isso, devagar até ruir. Você sorri e ajoelha rendendo-se a mim. Não abaixo a cabeça para te olhar, mas você levanta a sua para me olhar nos olhos. Entrelaço meus dedos em seus cabelos pela ultima vez. Uma vibração e esta feito. Você esta morto.
Os pedaços do telhado em cima de mim se desfazem antes de me atingir. Não posso ruir com você. Ainda tenho pelo que lutar, ainda tenho o que proteger, prometi que ia voltar.
Levito novamente, subindo. Um ponto negro no céu, contra o pôr-do-sol. As cinzas de seu castelo serão seu túmulo.
Eu ainda o amo. Voo na direção oposta ao vento, voltando pelo caminho contrário ao que fiz. Ele esta morto. Direi. E parte de mim morreu com ele, completarei em pensamento.
Fecho os olhos e sinto o vento em meu rosto, jogando meus cabelos para trás e trazendo o cheiro de sangue fresco e ferro frio. No fim, nossa história foi apenas mais uma que terminou á sangue e ferro.

Poesia - Tempo





Passa tempo, passa hora e eu não me esqueço de pensar.
Passa tempo, tempo passa, só não vejo ele passar.
Passa tempo, passa hora e logo está na hora de acordar.
Passa tempo, passa lento, passa, passa e parece não passar.
Vem a vida, e passa o tempo, o tempo não para, para esperar a vida passar.
Passa tempo, passa hora, e eu tento enxergar.
Passa tempo, passa hora e eu não aguento mais! Será que não da para parar de passar?
Não, não dá responde o tempo, eu vou continuar a passar.
Passa tempo, passa momento, passam até mesmo os sentimentos, ficam lembranças, memórias para si, nada, mais nada, e o tempo não vai parar para esperar você relembrar.
Relembrar o que? Pergunta a criança. Relembrar o passado. Responde a mãe. Mas mãe, se eu relembrar o passado, como vou viver o presente? Como terei mais memórias para relembrar? Questiona a criança. Calma pequena, pequena criança, isso tu és, não podes negar! As memórias são para se acumular. Relembrar, só quando e se, você tiver tempo para nisso pensar.





Poesia - Alma de calma




 Chuva lava minha alma,
 Me encha de calma.

 Céu, seu azul é perene,
 Seja claro ou escuro,
 Sou tida como solene,
 Seja meu escudo.

 Sol me adotou como filha,
 Quando vejo seus raios dourados,
 Lembro-me de uma ilha,
 Em algum lugar de meados.

 Noite, seja tranquila,
 Seja nublada,
 És noite, impermeada,
 Por tanto impermeai-me da solidão.






Poesia da verdade




  Brilhante como a própria Lua,
  Como o sonho que se esvai na noite escura,
  Como o Sol que engole a escuridão,
  E traz consigo toda uma multidão.

  Como a verdade que machuca,
  A minha verdade absoluta,
  Como a cor prata das emoções,
  Traz consigo as canções.

  Como o Mar que conversa,
  Ou a maré que refresca,
  Como a convencer-me de tudo,

  Da poesia, fiz meu mundo. 

Poesia - Tormenta de sentimentos

   O vento corta meu rosto, ao doce som do trovejar, um relâmpago corta o horizonte, e sou beijada por pequenas gotas de chuva, que antecedem a neve que está para chegar.
     Lágrimas escorrem de meu rosto, como a chuva escorre da nuvem, lágrimas quentes, chuvas frias, não há o equilíbrio e se houver eu não o encontro no trovejar dos sentimentos.
     A neve cai lá fora. Trovões carregados, fortes barulhos, assustadores ás vezes. Das nuvens já não saem gotas de chuva, mas sim, verdadeiras bolas de neve, lágrimas congeladas, como que para serem guardadas, ou reservadas para simplesmente poupar da mágoa.


Poesia - Rosas despedaçadas







Hoje no caminho, vi rosas vermelhas despedaçadas, ao chão.
Mil possibilidades passaram por minha mente,
Nenhuma correta provavelmente.

Vieram em minha mente,
Senti em meu coração,
Chorei por dentro por sentimentos que não me pertencem,
Sei que chorei em vão.

Perguntei-me então,
Quantos sonhos foram perdidos, dentre o próprio coração?
Quantos pensamentos foram afetados por sentimentos como a dor, ou, a solidão?