quarta-feira, 21 de maio de 2014

Conto - Sonho perturbador


   Eu sonhei...
   E no sonho era noite, e a Lua cheia iluminava tudo com seu brilho prateado. Eu estava em meu forte, com pilares sólidos de mármore brilhante, que espelhavam o brilho da Lua. Estava tudo azulado como a noite e eu olhava para o gramado arredondado, limitado pela floresta, por uma das minhas inúmeras janelas.
  E eu sabia que tudo aquilo era e é meu, que tudo aquilo era e sou eu.
  Uma sombra negra tomou a parede atrás de mim, uma sombra com formato assustador, que corria para perto de mim.
  No sonho eu corri. Desci a escadaria rapidamente, com o som de meus passos ecoando pelo enorme lugar, a sombra me acompanhava, mas eu era mais rápida.
  Ofegante cheguei aos portões de prata maciça, bem desenhados em formato de arco, que rapidamente abriu-se para me dar passagem.
  Eu estava em meu gramado, com a sombra fora de minha visão. "Não olhe para trás.", pensei, "Não olhe para trás.". Não via a sombra, mas sabia que ela ainda me perseguia.
  No sonho eu corri contra o vento que jogava meus cabelos e as sedas de meu vestido para trás. As sedas brancas estavam azuladas e meus cabelos normalmente dourados estavam cinza-prateados.
  E eu corria. Pela primeira vez atravessei o gramado sem interrupções e cheguei á uma das partes de minha floresta.
  Estava frio, e as pontas e folhas de galhos retorcidos riscavam e arranhavam minha pele com força, mas não diminui minha velocidade.
  As raízes me atrapalhavam e era difícil desviar de todas elas, mas a sombra chegava mais perto, como se tivesse facilidade em locomover-se na floresta. Eu era lenta demais. A sombra era o caçados e eu a caça.
  Corri depressa demais, olhei para traz e uma raiz traiçoeira me derrubou. A sombra estava chegando mais perto, e antes que eu pudesse me levantar ela já havia me ultrapassado e barrado meu caminho a três metros de distância., entre as árvores.
   E eis minha sombra, meu caçador, sentado á minha frente, coçando as orelhas. Quase não acreditei que era um coelhinho branco com algumas pintinhas pretas e olhos doces.
   A sombra de meu pequenino caçador ainda era assustadora, mas o contraste com sua delicadeza, beleza e fragilidade era ainda mais. Pude ouvir o vento dizer-me num suspiro "Acabou."
   E foi assim que eu acordei, perturbada, de um sonho perturbador.

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