Num quadro pronto, feito pela natureza, vejo uma
árvore negra que pinta o amanhecer. Num escrito lento, feito por mim, vejo a
beleza das palavras juntas nascer.
Quem se importaria se visse mais? Tem como ver mais
do que eu vejo, ou vejo tudo o que quero ver?
Disse a mim mesma por vezes, que cada um vê o que
quer ver, simplesmente porque eu vejo tudo o que quero e omito de mim mesma
tudo o que não quero ver.
No escuro procuro minha lanterna de vela, e não a
encontro enquanto tateio á minha volta. Levanto da cama, a saia da camisola,
branca, escorrega um pouco mais para baixo.
Encontro à janela. Abro-a, e vejo o quadro pronto,
feito pela natureza, vejo a árvore negra que pinta o amanhecer. Hoje o dia será
claro, é o que digo a mim mesma.
Digo-me várias coisas, sou uma ótima e violenta
companhia para mim. Digo-me o que acho, digo-me que horas são, digo-me o que
devo, digo-me o que não devo. Não, eu digo-me mais que isso.
Digo-me como está o tempo, digo-me enquanto o Sol
nasce que é dia e que tudo irá começar de novo. Quem sonha acordada, tem
pesadelos acordada também.
Dizem que sou paciente, a verdade é que me irrito
fácil demais. Quem diz é que não vê. Nem tudo é o que parece ser, nem tudo
brilha como deveria brilhar, nem tudo tem o gosto que deveria ter. Nem as
flores representam o que deveriam representar.
Percebi que hoje estou perdida dentro de mim mesma,
de novo. Mas faz já algum tempo que não me perco assim, em mim apenas. Em mim.
São raras às vezes em que o exterior conversa com o
interior, mas normalmente, quando acontece, chego a algumas conclusões, dentro
de mim.
O amanhecer decorre tranquilo, como o sonho que
tive. Toca-me profundamente, como o sono profundo. Puxa-me para dentro, como o
mar tão fundo. Sonho, sono, tempo. Vem, cai, fica vai... Vai...
Vida, tonta, lenta. Vivo tonta, e sou por vezes
lenta. Ouço vozes de pessoas já conhecidas por mim, falando sobre coisas que eu
não entendo por não querer entender. Como pássaro voo para onde quero estar.
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